domingo, 29 de novembro de 2009
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
domingo, 1 de novembro de 2009
A chave para sair do armário

Ficar no armário é como viver uma paixão platônica por si mesmo e angustiado pela vida inteira...
por Valmir Costa
No dia 11 de outubro o Brasil passou a celebrar o Dia de Sair do Armário. A iniciativa de trazer e propagar essa data no país deve-se ao Estruturação – Grupo LGBT de Brasília. Trata-se de uma data celebrada nos Estados Unidos desde 1998, quando aconteceu a II Marcha dos Direitos de Gays e Lésbicas de Washington DC. Mais do que louvável a iniciativa do Estruturação, é pararmos para pensar o que significa a expressão “sair do armário” e irmos muito além do termo.
No seu livro Nova York Gay: gênero, cultura urbana e o mundo do homem gay, o professor de História da Universidade de Yale, George Chauncey, diz que o termo passou a ser utilizado no início do século 20. “Pessoas gays nos anos anteriores à 1ª Guerra Mundial não falavam de “sair para fora (coming out)” do que nós chamamos atualmente “armário”, mas sair para o que eles chamavam sociedade homossexual ou o mundo homossexual ou gay.
Sendo assim, “sair do armário” era sair das amarras da cultura heterossexual e entrar na cultura gay, como nos bares, boates, entre outros. Mas este termo quer dizer muito mais do que isso. Afinal, do que adianta sair do armário e se enfiar nas boates, bares, saunas, lugares de pegação, entre tantos outros lugares, antes conhecidos de forma marginalizada como “gueto gay”?
É preciso ir além nas nossas posturas depois que se sai do armário. Mas como fazê-lo? Cheguei à conclusão que, para falar da saída do armário, era preciso sentir antes como era, ou é, viver nele. Esta explicação ficou mais clara depois de vivenciar uma experiência recente de uma paixão que me tomou a alma e me fez ver e sentir essa sensação de estar vivo e disposto a tocar a vida para frente e de outra forma.
Mas apaixonar-se não é tudo. É preciso dizer ao outro que você o ama, seja em gestos, ações e até verbalmente. Assim o fiz! E mais uma vez ouvi um não. No entanto, antes de dizê-lo – em ações, intenções, indiretas, gestos e palavras gaguejadas e em português claudicante – fiquei angustiado. E como já disse no texto E a fila tem que andar, que disserta sobre o amor, “angústia é fala entupida”. Assim estava eu vivendo esse amor platônico: angustiado. Mas depois de dizê-lo, tudo ficou tão leve que até brinco com a situação que, para dizer a verdade, nem sei onde vai dar afinal. Daí, a conclusão de que estar no armário é como viver uma paixão platônica por si mesmo e angustiado pela vida inteira...
Falso Eu – Viver no armário é falsear ou se esconder, pois quem se esconde vive apenas uma espécie de simulacro de si mesmo ou um “falso Eu”. Comparado à paixão, o ato de sair do armário é quando declaramos nosso amor para o outro, mas não há outro a ser amado que não nós mesmos. Porém, assim como no nosso amor enquanto paixão, não podemos esperar que o outro aceite a nossa paixão, tampouco a nossa sexualidade. Claro que isso dói, pois quem não quer ser aceito e amado na vida?
Mas isso nem sempre acontece. Seja na aceitação do nosso amor pelo nosso amado, nem no sentido da nossa sexualidade por aqueles que nos rodeiam. A começar pela família e, depois, pelos amigos, colegas de trabalho, pessoas do nosso convívio de um modo geral. Nossa autoestima vai parar no dedão do pé. Mas é preciso dar a volta por cima! Assim, teremos que agir da mesma forma como agimos diante das nossas paixões frustradas. Enfim, das nossas investidas sociais de nos aceitarem para nos sentirmos amados e aceitos. Como fazemos isso?
Ora, fazemos da mesma forma das nossas paixões não retribuídas. Passamos a ter relacionamentos não profundos nem duradouros, mas necessários. No caso da paixão, poderemos nos aventurar nas ficadinhas da uma balada, uma transa daqui outra acolá agendada de supetão pela internet, mas sem sentimentos afetivos compartilhados e de aceitação.
Não devemos nos iludir – No sentido de sair do armário, e não sermos aceitos, basta também fazer a mesma coisa. Enfim, usar da etiqueta social e agir de forma sociável com aqueles que precisam dos nossos serviços, da nossa atenção por um motivo ou outro. No entanto, não devemos nos iludir e acharmos que somos aceitos – como muitos acreditam – por se comportar como os outros querem, ou seja, “ser comportado”, “discreto”, “não dar pinta” e “se dar ao respeito”. Respeito a quem mesmo? A você ou aos outros? E eles respeitam a sua condição homossexual?
Não, isso não! Não precisamos viver – parafraseando Cazuza – “da caridade de quem nos detesta”. Não precisamos mendigar a nossa aceitação. Porém, podemos dar o troco com a mesma moeda. Assim, podemos até chamar esse “homofóbico no armário” de “querido” e agirmos da mesma forma como eles agem conosco. Basta usarmos esse dito cujo apenas quando precisarmos dele. Afinal, viver em sociedade é assim!
Todavia, isso não quer dizer que viver em sociedade é viver numa “Ilha da Hipocrisia”. Na vida fora do armário, não é diferente. Assim, como no amor, haverá aqueles que vão nos aceitar por completo um dia. Pode ser um amigo verdadeiro e leal e até aquele grupo de pessoas mais próximas, como pai, mãe e irmãos. Mas essa saída do armário ajuda a fazer uma faxina nas relações. Acredite!
Qual a receita? – Claro que, para sair do armário, não existe uma fórmula, uma receita, uma chave certa para abrirmos essa porta e sairmos dele. Afinal, sequer entramos, compramos ou o construímos. Mas a sociedade assim o faz conosco, e vai continuar fazendo caso deixemos que ela faça, ou seja, construir um armário no nosso entorno, que nos amedronta e que nos sufoca o tempo todo.
Não se sai do armário apenas uma vez. É preciso afirmar, reafirmar a todo o momento sobre a sexualidade que, apesar de ser de cunho privado, nos tolhe mesmo é no social. Tudo vai depender do tamanho do armário que você está ou carrega. Pode ser aquele aparente de duas, três, quatro portas. Ou, então, uma espécie de armário embutido. Vai depender do papel de gênero que você desempenha na sociedade. Isso numa relação de ser e se aparentar afeminado ou ter seu jeito másculo. Mas isso é outra história...
O que vale mesmo é não fincar raízes nos moldes heteronormativos, pois, quanto mais profundas, mais difícil será de arrancá-las. Uma vez que saiu desse armário, é preciso se debater toda vez que quiserem fabricar outro no seu entorno. Isso demanda esforço. Muito esforço! Independe de sair de casa, mudar de cidade, de país. Haverá sempre um molde heterossexual à espreita querendo ajustar você de alguma forma. Tudo isso diante dessas normas sociais da heterossexualidade. É preciso, a todo tempo, tomar cuidado de si.
O cuidado de si – No seu livro História da Sexualidade – o cuidado de si, o filósofo Michel Foucault trata esta questão da sexualidade. Este tipo da auto-aceitação, ele classifica de aphrodisia, ou seja, a forma do homem se comportar pelo seu prazer, que lhe dá mais liberdade. Se compararmos com aquele homossexual que se assumiu, ele é um aphrodisia. O termo faz referência à ética da moral sexual da Grécia Antiga, que se opõe ao modelo da moral sexual cristã dos nossos dias.
Para ele, desde o século XVII, o aphrodisia passa por grandes transformações. E estas transformações vivenciamos até hoje em tudo aquilo que diz respeito às práticas sexuais da humanidade do século 21. Foucault divide o aphrodisia em duas partes. A primeira delas diz respeito ao “cuidado de si mesmo” e a segunda é “conhece-te a ti mesmo”. Juntos, determinam a razão de “ser quem se é”, mas não ser apenas isso. É preciso “poder” ser quem se é. “Ocupar-se de si é conhecer a si próprio”, disse Foucault.
Como exemplo, Foucault cita o jovem e belo soldado Alcebíades (450-404 a.C.), por quem Sócrates (469-399 a.C.) se apaixonou perdidamente. Por conta disso, Sócrates foi condenado à morte por acusação de “corruptor da juventude”. Na era moderna, o mesmo aconteceu com Oscar Wilde (1854-1900) quando se apaixonou por Alfred Douglas (1870-1945), cujo apelido era Bosie, autor da conhecida frase "o amor que não ousa dizer o seu nome". A frase foi escrita no final do poema Two Loves, que Bosie escreveu e enviou a Wilde. Tal frase o expulsou para fora do armário e foi o motivo da sua condenação por prática de “homossexualismo”.
Tanto Sócrates como Wilde tiveram coragem de se desvencilhar das aparências e assumiram a homossexualidade em nome do amor, mas o amor pelo outro. No entanto, nem todo final vai ser tão trágico assim como a história de Sócrates e Wilde. Tudo vai depender da vontade de verdade e o desejo de ser quem é diante do medo, que deve ser vencido. Reciprocidade no amor ajuda a sair do armário, é fato! No entanto, sem personalidade e amor próprio não se vai além. Muitos saem do armário por conta de um amor e, depois que ele se transforma em ex-amor, passa a ser o “culpado” por todas as perdas que o amado teve. Se este é o seu caso, procure viver a vida mais além da dobradinha “perdas e danos” e pense nos ganhos que teve. Sim, eles existem!
Nunca é tarde – O que não se pode é deixar o tempo passar diante das nossas atitudes e possibilidades. “Quando se é jovem, não se pode evitar filosofar”, diz Foucault, e prossegue: “Quando se é velho, não se deve cansar de filosofar. Nunca é muito cedo ou muito tarde para cuidar de sua alma. Aquele que diz que não é e que não existe mais tempo de filosofar, diz que não há mais tempo de atingir a felicidade”
Foucault cita a filosofia, como o ato de pensar sobre determinadas situações. Daí, é o que a filosofia vai chamar de “vontade” e a Psicologia vai chamar de “desejo”. Enfim, a vontade e o desejo de ser quem você é. Ela anda junto com o tempo. E nem sempre se é tão jovem para viver o tempo desperdiçado, pois a juventude também envelhece. Segundo ele, deve-se, então, filosofar quando se é jovem e quando se é velho, no segundo caso para rejuvenescer ao contato do bem, pelas lembranças dos dias passados, e no primeiro caso, a fim de ser, ainda que jovem, tão firme quanto um velho diante do futuro.
A decisão de sair ou ficar no armário está sempre numa visão de futuro e numa barreira a ser ultrapassada chamada “medo”. Como canta Lenine, na música Miedo, “O medo é medonho, o medo domina, o medo é a medida da indecisão”. Essa é a única chave para sair do armário: vencer o medo. Se você ainda não achou a porta, saiba que a chave está dentro de cada um. Vai depender do amor que você tem por si ou pelo outro. É essa linha tênue, muito tênue, que a gente diz “Eu te amo” ao outro, ou “Eu me amo”. Independente de quem seja, saiba que o amor transforma. E muito!
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